“O regime alimentar considerado saudável é o que valoriza o equilíbrio”, afirma a nutricionista Mariline Tavares.

Ser vegetariano é uma opção de vida. Este tipo de alimentação tem vindo a aumentar na prática alimentar dos portugueses, que cada vez mais tiram a carne do prato. No entanto, implica alguns cuidados. Ao deixar de fora certas proteínas, aumentam os riscos de deficiência em ferro e vitamina B12.

Em declarações ao ComUM, a Associação Vegetariana Portuguesa refere que, de acordo com o estudo Balança Alimentar Portuguesa: como comem os portugueses?, do Instituo Nacional de Estatística, as disponibilidades de carne, que refletem a procura, aumentaram 8,7%. A maior oferta continuou a ser a proveniente de animais de capoeira (38,4%) e a disponibilidade de carne de suíno baixou, mas continuou a ser o segundo tipo de carne mais disponível para consumo (29,1%). Já a carne de bovino representa 22,7% do total. Quanto à oferta de pescado para consumo, esta aumentou 16,3% e alcançou 62,7 gramas por dia por habitante. O consumo de crustáceos e moluscos ultrapassou, pela primeira vez, as disponibilidades para consumo de bacalhau e outros peixes salgados secos (15,4% para 18,8% no período anterior).

O mesmo artigo indica dois grupos de alimentos onde se verifica um grande desvio face ao que é recomendado pela Roda dos Alimentos. Por um lado, o de “carne, pescado e ovos”, que são consumidos em demasia, com cada habitante a consumir diariamente, em média, 229,8 gramas e 83,9 quilos por ano, o que é quatro vezes superior ao recomendado. O contributo calórico médio diário das carnes por habitante (428,6 kcal) é mais de quatro vezes o total das calorias recomendadas pela Roda dos Alimentos para o grupo carne, pescado e ovos.

No período de 2016-2020, o consumo de leguminosas secas registou um aumento de 21 % em relação ao período anterior (2012-2015), representando agora 0,7% na Balança Alimentar Portuguesa, o que ainda está longe dos 4% recomendados pela Roda dos Alimentos. Assim, é possível aferir que existe um aumento de procura por alimentos que são fontes proteicas. No entanto, a tendência apresenta desvios face ao recomendado (os portugueses deveriam consumir mais fontes de proteína de base vegetal).

Um outro estudo de mercado solicitado à INTERCAMPUS pelo Eurodeputado independente Francisco Guerreiro, do Grupo Parlamentar Europeu Verdes/Aliança Live Europeia revelou que 66% dos consumidores portugueses consideram que o preço é a maior barreira ao consumo de alternativas à proteína animal. A seguir ao preço, o que mais conta é o sabor (45%) e a diversidade de oferta (39%). A prevenção e cuidado com a saúde é a principal razão da opção pelo regime alimentar flexitariano (71%), sendo que em segundo lugar surge, para estes, a sustentabilidade do planeta (52%) e, em terceiro, o respeito pelos animais (44%). Por outro lado, o respeito pelos animais é a principal razão da opção pelo regime alimentar que exclui inteiramente a carne (76%), seguido da prevenção e cuidado com a saúde (71%). Por último, para estes, está a sustentabilidade do planeta (66%).

O ComUM esteve à conversa com Beatriz Soeiro, uma jovem vegetariana há quase quatro anos, que sublinha a importância de “saber substituir a quantidade certa de ferro e proteína com outros alimentos, como a batata, feijão, lentilhas, etc.”. Uma redução completa da carne e do peixe “não torna uma alimentação saudável”. Beatriz Soeiro relaciona o aumento de pessoas vegetarianas, sobretudo na altura da adolescência, com a “moda”. Muitos jovens adotam essa opção alimentar pela influência dos outros, sem pesquisar sobre a alimentação e sobre as proteínas que deviam substituir.

A transição para o regime vegetariano não foi difícil para Beatriz Soeiro, dado que nunca gostou muito de carne. Além disso, “quando é algo que temos como objetivo torna-se sempre mais fácil”, afirma. Contudo, conta que a família demorou a aceitar. “A minha família adora carne. No início, não aceitavam, mas eu também não os obrigava a fazerem nada para eu comer”, frisa. 

A nutricionista Mariline Tavares defende que o “regime alimentar considerado mais saudável é o que prioriza o equilíbrio”. Avaliando aquilo que é o consumo e o estado nutricional dos portugueses, é notório que tudo é “consumido em excesso”. Para a profissional, o caminho não passa por nos tornarmos todos vegetarianos ou vegan, mas sim “por nos tornarmos conscientes de todos os excessos alimentares que cometemos e diminuirmos no dia-a-dia de forma equilibrada”. Considera necessário reduzir os alimentos mais processados, ou seja, todos aqueles que são embalados e com muitos conservantes.

A nutricionista refere que os clientes que procuram ajuda, têm como razões a não tolerância da textura ou sabor da carne, por respeito ao sofrimento dos animais. Outra das razões tem a ver com este grande despertar das pessoas para o desenvolvimento pessoal. Quanto maior a entrega a esse processo de autoconhecimento e de mergulho na espiritualidade, há naturalmente uma diminuição do apetite por carne, peixe e outros alimentos de origem animal, diz a nutricionista.

Desta alimentação, partilha resultados como melhorias na pele, no cabelo, nas unhas e alterações na função intestinal. Não se pode associar unicamente à ausência da carne, mas à melhoria da qualidade nutricional da alimentação. Mariline Tavares adverte que todos os nutrientes são importantes para o corpo e saúde, na medida certa para cada pessoa. A nutricionista conclui que “o mais saudável é optar por tudo aquilo que é mais “caseiro”” e costuma usar a expressão “descascar mais e desembalar menos”.