Plataforma  Troca: 'Francisco Guerreiro no Público: O Caos Climático aproxima-se!'

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  • Terça-feira, 06 de Julho de 2021

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O eurodeputado Francisco Guerreiro escreveu um texto sobre as questões climáticas que dá bastante ênfase ao acordo UE-Mercosul, o qual foi publicado dia 15 de Março no Público. Pela sua pertinência e assertividade, aqui o partilhamos:

O Caos Climático aproxima-se!

É urgente aceitarmos que a crise climática é uma ameaça existencial e compreendermos que
não chega votarmos em quem promete e não cumpre o seu compromisso com a protecção e
regeneração dos ecossistemas.

Este artigo afasta-se da dissonância cognitiva que opera em grande parte da classe
política e de muitas instituições supranacionais tal como dos Estados-Membros, ao

afirmar que o Pacto Ecológico Europeu (https://www.publico.pt/pacto-ecologico-
europeu) é um marco concretizável para a transição para uma economia social

descarbonizada até 2050. Não porque não gostasse de ser o portador de tão auspiciosas

notícias, mas porque os dados científicos apontam para uma falha das metas de redução
de gases com efeito de estufa aos níveis exigidos pelos mais recentes estudos e
projecções.
Veja-se que para termos mais probabilidades de não atingirmos o aumento de 1.5 graus
até 2050 teríamos que reduzir as emissões de gases com efeito de estufa (GEE) até 2030
entre 65% a 70%. O acordo conseguido entre a Comissão, o Conselho e o Parlamento
Europeu é de 55%. Mais, se olharmos para alguns dos pacotes sectoriais que compõem o
próximo Quadro Financeiro Plurianual verificamos que as declarações políticas “verdes”
esbarram com a realidade. Por exemplo se falarmos da Política Agrícola Comum, que
absorverá cerca de 30% do orçamento comunitário, e é gerador de mais de 10% das
emissões com gases de efeito de estufa na Europa, mas um dos maiores factores para a
desflorestação na União Europeia (EU), devido à pecuária, vemos que a redução da
produção intensiva de animais e a alteração gradual para modos de produção mais
extensivos, regenerativos e vegetais não é efetiva.

E, quando olhamos para a macroeconomia, continuamos a verificar que os acordos
comerciais com países terceiros estão muito aquém de cumprir as metas do Acordo de
Paris e o próprio Pacto Ecológico Europeu. Ou seja, quando a presidência Portuguesa do
Conselho da UE afirma que deseja finalizar o Acordo com os países do Mercosul
(https://www.publico.pt/2021/02/26/p3/cronica/nao-acordo-uemercosul-1951337), sem
quaisquer vínculos legais que garantam o fim da desflorestação da região amazónica, ou
mesmo do Acordo de Investimento com a República Popular da China, desconsiderando
direitos Humanos e o impacto da industrialização chinesa na emissão de GEE,
comprovamos que o clima não é uma prioridade mas sim um chavão político.
E este conforto psicológico que opera nas instituições Europeias, devido à maioria dos
partidos que as compõem e condicionam a sua governação, nomeadamente o Partido
Popular Europeu (PSD/CDS), os Socialistas e Democratas (PS) e o Renew Europe
(Liberais), e que se projecta em adiar mudanças estruturais e urgentes no modo como
produzimos, distribuímos, consumimos e gerimos os resíduos, demonstra que a nível
climático não estamos a encarar os dados científicos como uma crise existencial.

Mas há esperança! É urgente aceitarmos que a crise climática é uma ameaça existencial e
compreendermos que não chega votarmos em quem promete e não cumpre o seu
compromisso com a protecção e regeneração dos ecossistemas. Este desafio de
descarbonizar a Europa e garantir também melhor vida aos seus cidadãos só se
concretizará dando mais poder aos movimentos políticos verdes, garantindo mais
participação das comunidades, dos cidadãos e de empresas no processo de decisão e
descentralizando a produção, distribuição e gestão de resíduos em todas as regiões e
sectores.


Francisco Guerreiro
15 de Março de 2021, 20:23
https://www.publico.pt/2021/03/15/mundo/noticia/caos-climatico-aproximase-1954556

Disponível aqui


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