Setúbal Mais: ' Novo mural da cidade foi recuperado. A pintura falava do anseio desesperado por paz'.
Obra integrada na campanha, “Painting for Palestine”, foi coberta por tinta branca um dia e meio depois de ter sido concluída.
Pintado a 28 de janeiro na Avenida da Portela, em Setúbal, o mural “Uma Janela para um País Livre” foi vandalizado dia e meio depois de finalizados os trabalhos de 25 colaboradores. A obra integrada na campanha “Painting for Palestine” foi coberta por tinta branca e, em jeito de resposta, os responsáveis pela iniciativa “Histórias que as Paredes Contam” decidiram colocar, junto à pintura, na manhã de 31 de janeiro, a mensagem “Aqui jaz um mural pela paz”.
Helena de Sousa Freitas, coordenadora do projeto, que desde setembro desenvolve um conjunto de iniciativas em Setúbal, no âmbito do Programa das Comemorações Nacionais dos 50 anos do 25 de Abril, lamentou que “quando o País celebra meio século de democracia, continue a haver quem se mostre tão incapaz de conviver com as diferenças de opinião”.
Três semanas depois do ato de vandalismo, a obra regressa ao local que inicialmente a acolheu. Informada do trabalho em curso, a artista palestiniana Azhar Al Majed, autora do desenho que torna agora a assumir a forma de um mural, partilhou a sua emoção com o projeto “Histórias que as Paredes Contam”, no âmbito do qual o mural foi criado.
“Sinto-me honrada e feliz por este trabalho ter tocado os corações das pessoas e ter motivado esta grande expressão do direito dos palestinianos à sua terra, resumindo uma história de 75 anos de luta”, declarou Azhar Al Majed, residente em Gaza mas atualmente refugiada no Egipto.
A pintura demorou cerca de dez horas até estar concluída. Este domingo, 18 de fevereiro, decorreram os trabalhos de recuperação, que contaram novamente com a presença da artista e ativista Lala Berekai, principal responsável. A artista fez-se acompanhar por mais de meia centena de pessoas oriundas de países como Índia, Irlanda, Bangladesh e dos Estados Unidos da América, que colaboraram também na recriação.
João Pimenta Lopes e Francisco Guerreiro, eurodeputados, também estiveram presentes no processo. “Tratou-se de recuperar o trabalho que ficara submerso por tinta branca, de revitalizar os seus traços prévios e voltar a preencher-lhes o interior”, acrescentou Helena de Sousa Freitas, coordenadora do projeto, esperando que “a obra seja entendida como aquilo que pretende ser: uma expressão de solidariedade com um povo que sofre e um voto de paz para a região onde este se encontra”.
O mural “Uma Janela para um País Livre” resulta de um desafio lançado pelo sociólogo irlandês Bill Rolston, último convidado do ciclo de conversas organizado pelo “Histórias que as Paredes Contam”. Envolvido na campanha “Painting for Palestine”, que arrancou em Belfast, Irlanda do Norte, a 14 de janeiro, Bill Rolston estava em Setúbal quando o mural foi vandalizado.
“O mural falava do anseio desesperado por paz, justiça e liberdade no meio de um horror indescritível, com cerca de 30 mil pessoas mortas em Gaza, 40 por cento das quais crianças. Não compreendo como é que alguém se pôde sentir ofendido pela sua mensagem”, reagiu o sociólogo.
Por decisão do “Histórias que as Paredes Contam”, a frase “Aqui jaz um mural pela paz”, inscrita ao lado da pintura após o atentado que a visou, ficou parcialmente mantida no local. “Uma Janela para um País Livre” foi o segundo mural realizado no âmbito do projeto, que tem já na rua o “Mulher—Pomba”, criado coletivamente sob a orientação estética do artista plástico e muralista chileno Alejandro “Mono” González, com quem o projeto inaugurou o seu ciclo de conversas públicas.
O “Histórias que as Paredes Contam — 50 anos de Muralismo em Setúbal”, que desde 5 de setembro de 2023 desenvolve no concelho, um conjunto de iniciativas no âmbito do Programa das Comemorações Nacionais dos 50 anos do 25 de Abril, prossegue com a preparação de um álbum de fotos e histórias sobre a prática muralística na cidade, a lançar em abril, tendo ainda prevista a execução de mais três murais e a realização de um documentário sobre o processo criativo inerente às diferentes atividades.
Com chancela do Monte de Letras, o projeto tem por parceiros a Câmara Municipal de Setúbal, através da iniciativa “Venham Mais Vinte e Cincos”, o Instituto Politécnico de Setúbal, a Associação dos Municípios da Região de Setúbal, juntas de freguesia do concelho, a União Setubalense e a Associação Cultural Festroia.
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