Campeão das Províncias: 'Veganismo nos dias de hoje'

Campeão das Províncias: 'Veganismo nos dias de hoje'

  • Quinta-feira, 16 de Novembro de 2023

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Por veganismo entende-se um estilo de vida que exclui o uso e ingestão de todo e qualquer produto de origem animal.

Para além da não ingestão de proteína animal, os veganos fazem um grande esforço por incluir no seu vestuário peças vegan, assim como para usar cosméticos que não sejam testados em animais (champô, batom, toalhitas de limpeza de pele) ou até mesmo produtos de higiene pessoal, como pasta dos dentes ou elixir bocal.

O número de pessoas veganas no mundo tem vindo a aumentar todos os anos e Portugal não é excepção, sendo já mais de 43 mil os praticantes de veganismo. Apesar do grande crescimento, há, ainda, quem hesite em seguir este tipo de dieta por razões como a dificuldade em fazer refeições fora de casa, visto que, poucos estabelecimentos incluem na ementa um prato vegan.

É necessário que se comece a desmistificar o conceito de veganismo, que para além de ser pouco conhecido, é desvalorizado, existindo muito preconceito em torno do mesmo. É também importante o acompanhamento nutricional e, nalguns casos, acompanhamento psicológico.

Inês Costa, natural da Figueira da Foz, tem 24 anos e iniciou o processo de se tornar vegana há, aproximadamente, 6 anos.

Apesar de considerar muito difícil seguir à regra este estilo de vida, visto que há ainda poucas lojas que vendem roupa e calçado vegan, ou as poucas que vendem oferecem elevados preços de compra, Inês esforça-se para que lhe seja possível cumprir os seus deveres enquanto vegana. “Infelizmente não consigo ainda ter um estilo de vida 100% vegan, por dificuldades como acesso a artigos ou produtos demasiado caros”, refere.

Inês deixa um conselho a todos aqueles que querem reduzir o consumo de produtos de origem animal: “ninguém precisa de ser perfeito. Se sentem que este é um caminho que vos faz sentido, vão alterando a vossa dieta aos poucos. E se não têm como objectivo ser vegan, mas o sofrimento animal e o comprometimento do planeta vos preocupa, vão diminuindo o consumo de produtos de origem animal. 1 ou 2 refeições vegetais por semana já faz alguma diferença! E mais importante ainda, cuidem da vossa saúde”.

Leonor Santos, de Aveiro, tem 21 anos e é vegan desde 2019, tendo o processo sido gradual. Leonor viu na sua saúde uma grande diferença e está, hoje, feliz consigo e com a sua escolha de regime alimentar: “Estava a fazer aquilo porque queria e porque era o que fazia sentido para mim, comecei a perder peso sem sequer dar por isso, muito devido às características do tipo de regime alimentar em si. Tudo isto contribuiu muito para um bem-estar geral e para um estilo de vida muitíssimo mais saudável e muitíssimo mais feliz em todos os aspectos, pois além de estar feliz por sentir que fazia parte de uma causa, sentia-me bem comigo mesma”, diz.

Moda ou preocupação?

A maioria da população que adopta um estilo de vida vegan é jovem, pela informação à qual tem acesso, pela sociedade na qual estão inseridos e em alguns casos, por influência.

Os mais velhos são, muitas vezes, cépticos em relação ao veganismo e há até quem “torça o nariz” se souber que o que está a comer não leva nenhum produto de origem animal.

Nos últimos anos tem-se falado muito acerca do sofrimento dos animais ao longo da vida e dos problemas ambientais que a indústria pecuária provoca. Os veganos informam-se bastante antes de começarem a dieta, mas as preocupações animais e ambientais são as principais razões para adoptarem este estilo de vida.

Há quem seja contra o veganismo devido ao facto de o número de pessoas a seguir este regime alimentar ter aumentado bastante nos últimos tempos, achando até que pode ser “porque está na moda”.

Assim, e de forma a consciencializar a população, será lançado um documentário acerca do consumo de carne (“Carne: a pegada insustentável”), no próximo dia 25 de Novembro.

O documentário é o primeiro grande projecto nacional sobre alimentação de origem vegetal, em detrimento da alimentação com base na proteína animal, que junta depoimentos de mais de 20 especialistas, tendo sido filmado em Portugal, no Líbano, Reino Unido, França e Bélgica.

Além disso, hoje há já marcas nacionais bastante conhecidas que produzem alimentos de origem 100% vegetal, como é o caso da Mimosa, que lançou recentemente os seus novos iogurtes de soja com aroma; a Iglo, que produz nuggets e hambúrgueres vegetais ou a Magnum e a Carte d’Or, que produzem gelados vegan.

De acordo com a Dr.ª Adriana Marques, nutricionista, os veganos devem fazer uma alimentação variada, para que a proteína seja reposta no sistema, evitando a ingestão de processados, que apesar de não conterem vestígios animais, podem ser prejudiciais para a saúde devido aos elevados níveis de sal e gordura contidos.

Ainda assim, e como a maioria dos produtos vegan alternativos à carne (soja, tofu, seitã) devem ser marinados ou temperados com antecedência, muitas vezes, na azáfama do dia-a-dia, muitos, acabam por optar por comer produtos congelados que seja só colocar no forno sem ser preciso sequer temperar.

Ser vegan faz diferença

A adopção de um estilo de vida vegan não vai mudar o mundo, visto que uma grande parte da população mundial consome produtos de origem animal, mas todos aqueles que praticam uma dieta vegan acabam por ter um certo impacto, quer a nível pessoal, uma vez que se sentem bem com a escolha que fizeram, quer a nível social, porque mesmo que não haja uma grande mudança, vai, de uma forma ou de outra, contribuindo para a mesma.

A nutricionista Adriana Marques afirma que “apostar numa alimentação de base vegetal é uma necessidade para garantir a sustentabilidade do nosso planeta e, consequentemente, a vida das futuras gerações. Ao longo dos anos, o caminho vem sendo feito, no sentido do aumento da oferta “. Considera ainda que o veganismo é uma alimentação mais ética, no sentido em que respeita a vida dos animais, procurando um mundo mais igualitário e com menos sofrimento.

Para Leonor Santos, é certo que ser vegan pode gerar um impacto positivo no mundo, e aconselha todos aqueles que pretendam iniciar um regime alimentar totalmente vegetal, a “certificar-se de que está a fazê-lo pelas razões certas. Não deixa de ser uma mudança radical no estilo de vida de uma pessoa e pode ser sim difícil no início, mas se for algo ponderado e que de facto faz sentido para nós, torna todo o processo de adaptação mil vezes mais fácil”.

Opções na hora da sobremesa

Com o crescimento do número de pessoas a praticar uma dieta vegan, muitos foram os estabelecimentos que começaram a confeccionar e a vender produtos vegan.

Ana Macário, proprietária da página de Facebook e Instagram “Miminhos da Ana”, confecciona sobremesas vegan, sendo mais conhecida pelos bolos de aniversário alternativos. Entrega ao domicílio na cidade de Coimbra e os pagamentos são feitos por “mbway”.

A comerciante começou o percurso de confecção de sobremesas há cerca de cinco anos, tendo-se despedido do local onde trabalhava para se aventurar num novo capítulo, sem saber bem o que iria acontecer a seguir. Tem alguns amigos vegan e fica feliz por saber que gostam dos seus produtos. Considera-se uma autodidacta, fez já alguns workshops na área, mas o que mais faz é “estudar” em casa.

Os bolos de aniversário são o produto que mais se vende e Ana Macário pensa, daqui a algum tempo, abrir a sua loja física, caso o negócio continue a correr bem.

Confessa que os ingredientes para a preparação dos bolos são caros e, consequentemente, o valor do produto final, já confeccionado e decorado, acaba também por aumentar. Apesar de tudo, o número de clientes continua a aumentar, visto que, “quando as pessoas querem comer algo com qualidade não se importam de pagar”, diz.

Os clientes da empresária são, na maioria, vegan. Ainda assim, há quem não seja e, por ter provado o bolo de aniversário de um amigo ou familiar, ou até mesmo por curiosidade, acaba por comprar e ficar satisfeito por perceber que não são “tão diferentes dos bolos ditos “normais “.

Texto: Inês Calado

Publicado na edição em papel do “Campeão” de 16 de Novembro de 2023

 Lê o texto online aqui


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