Diário de Notícias: ' Filme Português alerta para a urgência em mudar os padrões de alimentação mundiais.'

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O documentário Carne: a pegada insustentável aborda a urgência de mudar os padrões de alimentação a nível mundial, privilegiando uma dieta plant-based, para evitar o colapso climático. É produzido pelo eurodeputado do Grupo Parlamentar Europeu Verdes/Aliança Livre Europeia Francisco Guerreiro, que pretende transmitir que todos os esforços feitos para reduzir o consumo de proteína animal contam. O documentário estreou no Cinema Fernando Lopes, em Lisboa, e irá ainda ser exibido no Porto, em Faro e Setúbal, antes de ser disponibilizado online a partir de abril do próximo ano.

Para este documentário, Francisco Guerreiro junta-se ao realizador Hugo de Almeida, com quem produziu o documentário de 12 episódios RBI: um caminho de liberdade, sobre o Rendimento Básico Incondicional. "Este documentário surgiu de quatro anos de trabalho no Parlamento Europeu e de ver grandes limitações para avançar em matérias de bem-estar animal, nomeadamente com grande pressão de lobbies agroindustriais e da pecuária. Surgiu também de ver que há uma grande incompreensão, de uma boa parte da população, do que é que significa o veganismo e os impactos positivos que este traz", diz Francisco Guerreiro em entrevista ao DN.

O documentário foi filmado em Portugal, no Líbano, no Reino Unido, em França e na Bélgica, e está dividido em três grandes secções: saúde, ecossistemas e proteção ambiental, e dos direitos dos animais. Durante dez meses Francisco Guerreiro quis produzir um filme cientificamente correto e que permita desmistificar e lutar contra o lobby agroindustrial e pecuário.

O eurodeputado conduziu mais de 20 entrevistas a especialistas na matéria e a pessoas que adotaram uma alimentação plant based. Em Portugal, focaram-se em vários exemplos, mas Francisco Guerreiro destaca o caso da empresa Agramonte, de Paredes de Coura, que transitou de produzir alheiras tradicionais para alheiras vegan.

O eurodeputado e a sua equipa foram a Beirute, no Líbano, onde existe o primeiro hospital onde são servidas refeições veganas a todos os pacientes. "Os médicos informam e explicam aos pacientes as refeições que servem e cada um decide se quer continuar com esse sistema nutricional".

No Reino Unido, Francisco Guerreiro conversou com George Monbiot, biólogo e jornalista de investigação, para falar sobre os impactos da indústria e dos limites que lhe estão associados. "Analisámos também os dados que nos mostram que efetivamente estamos perante o pré-colapso ecológico. Devíamos fazer uma transição muito rápida e a maneira mais eficiente é, na nossa esfera individual, trocar o nosso estilo alimentar". Filmaram ainda na Bélgica e em França, tanto em Bruxelas como em Estrasburgo, cidades onde se encontra o Parlamento Europeu.

O eurodeputado considerou importante conversar com pessoas que fizeram a transição para uma alimentação vegan para mostrar que é possível e que pode realmente trazer mudança ao mundo. "Estamos a viver uma crise existencial, estamos próximos do colapso ecológico e consumimos biliões de animais diariamente, algo que traz um sofrimento atroz a estes seres. Estamos a destruir a nossa própria existência e saúde com consumos insustentáveis. Não se deve ter medo de enfrentar os grandes lobbies industriais mas também os mitos tradicionais que nos dizem que se comermos um pouco de carne nada de mal vai acontecer ao mundo", afirma o eurodeputado dos Verdes.

Em Portugal, segundo dados do Instituto Nacional de Estatística, cada português consumiu 118,5 quilos de carne em 2022. Francisco Guerreiro considera que falta coragem política para apoiar a transição para uma dieta baseada em proteína vegetal. "Além da coragem política, faltam políticas públicas que garantam que alimentos à base de proteína vegetal tenham um preço mais reduzido e que os produtos derivados da pecuária e pesca intensiva tenham o seu custo real". O eurodeputado lembra que se o preço dos produtos de origem animal incluíssem as emissões de gases com efeito de estufa, o CO2, metano, e outros custos, o seu preço seria mais alto do que aquele que é apresentado atualmente.

Francisco Guerreiro considera que a nível da Comissão Europeia ainda não está a ser feito o suficiente para promover a diminuição do consumo de carne. O eurodeputado lembra que em 2019, no início do mandato, a Comissão estava determinada a rever toda a legislação relacionada com o bem-estar animal, incluindo as questões dos abates, transporte, os sistemas de produção. No entanto, considera que a pressão exercida pelos lobbies sobre esta instituição fez com que apenas a diretiva de transporte de animais vivos regressasse à mesa para ser revista.

Neste documentário, além de apresentar os problemas, Francisco Guerreiro apresenta soluções, entre elas ajudar produtores de determinadas indústrias a transitar para outras mais sustentáveis.

"Ajudar as pessoas que, por exemplo, estão na pecuária e na pesca mais tradicional a transitar para outros modelos de produção à base de proteína vegetal. O setor das algas está em franco crescimento na União Europeia, no entanto, importamos cerca de 95% das algas que consumimos no continente".

 

 

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