Diário de Notícias: 'Duas centenas na rua em Lisboa com partidos à mistura'

Diário de Notícias: 'Duas centenas na rua em Lisboa com partidos à mistura'

  • Sexta-feira, 24 de Setembro de 2021

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onge da mobilização de outros anos, a greve climática estudantil levou esta sexta-feira à rua em Lisboa cerca de 200 pessoas, num protesto que se declara apartidário, mas a que se colaram diversos partidos, com ou sem bandeiras.

PCP, Bloco de Esquerda, PAN, Livre, MAS e Volt marcaram presença na concentração que começou no jardim Amália Rodrigues, no alto do Parque Eduardo VII, onde a primeira faixa a levantar-se proclamava que "o capitalismo não é verde".

A porta-voz da Greve Climática Estudantil Diana Neves disse à agência Lusa que "só deixa de haver motivos para fazer greve quando os governos e as instituições decidirem dar ouvidos" e "fazer uma transição justa, tanto climática como social".

"Até lá, vamos continuar a sair e a reivindicar os nossos direitos, sobretudo o direito a ter futuro", declarou, apontando que "o sistema socioeconómico continua a ser guiado pelas empresas [que exploram combustíveis] fósseis".

Questionada sobre a presença dos partidos que se foram juntando à concentração, Diana Neves declarou que "a greve é apartidária", recusando associar a greve climática a qualquer "partido em específico ou movimento político partidário".

Sobre o tom ideológico do manifesto lançado pelo movimento internacional Fridays for Future para balizar a greve, em que se aponta o sistema capitalista, o "Norte global" e os "colonizadores do Norte" como responsáveis, referiu que "a Ciência diz e a História diz" também que os países do hemisfério Norte "têm a responsabilidade histórica" pelo maior nível de emissões de gases poluentes para a atmosfera.

É a esses países, defendeu Diana Neves, que cabe a responsabilidade de cortarem o maior volume de emissões. "É óbvio que as pessoas do Sul global, que estão mais expostas e já sofrem as consequências [das alterações climáticas] não têm tanta responsabilidade de cortar emissões porque também não as produzem tanto", argumentou.

Outro dos vetores do Fridays for Future é a associação entre alterações climáticas e problemas sociais como o racismo, o sexismo ou a discriminação em função da sexualidade, que Diana Neves analisa referindo que "a crise climática é um dos fatores que vai aumentar todas as outras crises".

"Sabemos que são sempre as mesmas pessoas que estão mais expostas e são mais fragilizadas a qualquer crise social, desde as minorias étnicas às mulheres, aos trabalhadores ou aos 'LGBTQIA+", disse a porta-voz da Greve Climática Estudantil.

Beatriz Lopes, que não teve que faltar às aulas para estar na greve uma vez que concluiu este ano a licenciatura em Geografia e Planeamento Regional, disse à Lusa que "justiça climática" significa "alterar este sistema capitalista que não permite ser verde, que não permite a alteração para as energias renováveis".

"A nível internacional, há uma maior tendência para quererem puxar para a agenda verde, mas não sei se é só para efeitos políticos e para trazer votos ou se é mesmo a intenção dos políticos. Por isso é que continuamos a sair para a rua, porque podemos ver isso apenas como agenda política e não mesmo como intenção de mudar o sistema que está cada vez mais a colher os recursos do nosso planeta", acrescentou.

Entre ensaios de palavras de ordem, canções e elaboração à mão de cartazes, o número de aderentes ao protesto foi aumentando paulatinamente no cimo do Parque Eduardo VII.

Pouco a pouco, foram-se-lhes juntando bandeiras dos partidos que se quiseram associar, incluindo os candidatos autárquicos a Lisboa do PAN, Manuela Gonzaga, Beatriz Gomes Dias, do Bloco de Esquerda, e Tiago Matos Gomes, do Volt e um deputado europeu ex-PAN.

A assistir a tudo, a estudante alemã Sophie disse à Lusa que fez questão de reservar um dia da viagem de duas semanas que está a fazer entre Faro e o Porto para engrossar a manifestação.

"Os políticos precisam de entender que a luta é contra as alterações climáticas. Não importa se a manifestação é grande ou pequena. Estarem cá todos os que estão é melhor que do que não estar ninguém", afirmou.

Sensivelmente à mesma hora a que decorria a concentração de Lisboa, na capital do seu país natal, Berlim, a ativista que deu origem à greve climática estudantil, a sueca Greta Thunberg, desfilava também.

"A geração mais jovem está a fazer barulho e quer que [os políticos] saibam. Na Alemanha, o tema está bem presente por causa das eleições [legislativas], é por isso que há lá tantos protestos, tal como em toda a Europa".

Manifestações pedindo ação política para fazer face às alterações climáticas decorreram hoje em várias cidades europeias, sobretudo alemãs, além de um protesto de ativistas que bloquearam o porto britânico de Dover a requerer intervenção policial.

Em dia de greve climática estudantil promovida pelo movimento Fridays for Future, outro movimento, o Insulate Britain tomou ações mais radicais e bloqueou o acesso ao porto de 'ferrys' de Dover, no sul de Inglaterra, levando a polícia a intervir e a deter 29 ativistas.

O pretexto para a ação, semelhante a outras iniciativas levadas a cabo nos arredores da capital britânica nos últimos dias, foi reclamar melhor isolamento das habitações e protestar contra a pobreza energética no Reino Unido.

O bloqueio começou de manhã, mas a meio do dia ainda se estava a retomar lentamente o fluxo de entradas e saídas do porto, um dos principais pontos de entrada de mercadorias provenientes de países da União Europeia.

A ativista sueca que inspirou em 2018 o movimento global de greves estudantis, Greta Thunberg, esteve em Berlim a encorajar os milhares de manifestantes - 20 mil, segundo números da polícia - em frente ao parlamento alemão para que votem mas para que não deixem de estar na rua, considerando que os partidos políticos não estão a fazer tudo o que deviam pelo clima.

As manifestações em Berlim, Colónia e outras cidades alemãs aconteceram na antevéspera de eleições legislativas no país, em que os temas ambientais são prioridade para os principais candidatos à sucessão da democrata-cristã Angela Merkel como chanceler.

No oeste da Alemanha, na cidade de Unna, dois jovens de um grupo que começou por ser de sete continuam em greve de fome e ameaçaram começar a deixar de ingerir líquidos até que o candidato social-democrata, Olaf Scholz, declare que a Alemanha, afetada por graves cheias que causaram 180 mortes este verão, está em estado de emergência climática.

Em Praga, capital da República Checa, centenas de estudantes e ativistas manifestaram-se também gritando que é "agora ou nunca" que se contém o aquecimento global e exibindo cartazes e faixas pedindo "Justiça climática" e "um planeta saudável para as crianças".

Com ações marcadas para cerca de 70 países, incluindo Portugal, onde aconteceram concentrações em 14 localidades, a greve climática mobilizou também vários grupos de jovens em cidades da Índia, que pediram aos políticos que tenham mais ambição para reduzir as emissões de gases que provocam o efeito de estufa e se comprometam com ações concretas.

Disponível aqui


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